A ARTE DA TELEPRESENÇA NA INTERNET

Eduardo Kac

A telepresença e a realidade virtual estão entre as váriastecnologias recentes que abriram novas áreas de experimentaçãoartística. A pesquisa científica sobre a telepresençatem enfocado a telerobótica e a teleoperação. O desenvolvimentodas tecnologias comerciais de realidade virtual tem nos possibilitado umnovo nível de interação com computadores, nos permitindoexperienciar um ambiente completamente sintético a partir de perspectivasde imersão ou de segunda-pessoa. Quando usado de um modo radical,como um gesto conceitual que levanta questões sobre a vida contemporânea,os híbridos dessas e de outras tecnologias tem ajudado artistaseletrônicos a questionar definições tradicionais daarte (Harley, 1992; O'Rourke, 1992; Verostko, 1993; Kriesche, 1993).

As pesquisas científicas atuais apontam claramente para um futurono qual a "telepresença" e a "realidade virtual"se tornarão mais integradas do que são agora (Fischer, 1990).Entretanto, hoje pode-se ainda fazer uma distinção objetivaentre as duas (Sheridan , 1992). Nesse sentido, neste ensaio, sempre queeu me referir à palavra "telepresença" eu o fareiem relação à telerobótica; i. é, o controleremoto de um robô localizado em um espaço físico distante.Eu entendo a "realidade virtual" relacionada à criaçãoe experiência de mundos puramente digitais.

A distinção entre telepresença e realidade virtualpode ainda ser esclarecida comparando-se os efeitos dessas tecnologiasna percepção humana. A realidade virtual ap"ia-se nopoder da ilusão para dar ao observador uma sensaçãode estar realmente num mundo sintético. A realidade virtual tornaperceptualmente real o que, na verdade, tem existência somente virtual(i.é, digital). Ao contrário, a telepresença transportaum indivíduo de um espaço físico para outro, freqüentementevia links de telecomunicação. As telecomunicaçõese a robótica podem reunir a transmissão e a recepçãode sinais de controle de movimentos com um feedback audiovisual, hápticoe de força. A telepresença virtualiza o que na verdade somentetem existência física.

Na verdade, desse ponto de vista, pode parecer que as tecnologias derealidade virtual e de telepresença sejam opostas em sua natureza.Entretanto, eu proponho que um "princípio de equivalência"emerja dessa comparação: vistas conjuntamente, essas duastecnologias oferecem alternativas para a nossa noção padronizadade realidade, indicando que o novo domínio da açãoe da experiência humanas abrange com a mesma intensidade o espaçoeletrônico e o espaço físico. Os mundos digital e sintéticopodem tornar-se temporariamente "equivalentes" a realidades tangíveis,já que tanto a tecnologia de telepresença quanto a de realidadevirtual podem projetar a ação humana em tempo real atravésde barreiras espaço-temporais.

A série de instalações e eventos denominados Ornitorrinco,iniciada em 1989 (Kac, 1990,1991), funda a arte da telepresença.Mais especificamente, através do Ornitorrinco eu proponho a uniãode três áreas de investigação estéticaque até então têm sido exploradas como domíniosartísticos separados: robótica (Burnham, 1968; Reichardt,1978; Jan, 1985), telecomunicações (Breland, 1990; Ascot& Loefler, 1991; Kac, 1992a) e interatividade (Wooster, 1990; Morgan1991; Cornwell, 1992). A seguir, eu examinarei as implicaçõesconceituais e as implementações práticas do trabalhoque eu tenho desenvolvido com Ed Bennet na arte da telepresença.Essa discussão está centrada em torno da instalaçãode telepresença em rede "Ornitorrinco no Éden",a primeira obra de arte da telepresença na Internet.

Interação, Telepresença e Netvida

A introdução em larga escala de tecnologias televirtuaisna sociedade está remapeando nosso domínio de açãoe interação em todas as esferas públicas. Hoje, comono passado, novas tecnologias de informação redefinem a experiênciahumana. Isso aconteceu com a imprensa mecânica, a fotografia, a telegrafia,o telefone, o fon"grafo, o cinema, o rádio, a televisão,o computador pessoal, a Internet. Novas tecnologias de informaçãogeram novas situaç'es bem como novas maneiras de compreender situaçõesconhecidas. Elas têm o poder de modificar a arena social atravésda introdução de novas formas de intercurso e negociaçãode significados. Hoje, novos "codecs" (algoritmos de compressão/descompressão)também geram novos c"digos, à medida que nossos sistemasde trocas simb"licas começam a incorporar novos elementos introduzidospela fusão de telecomunicaç'es anal"gicas, computaçãoem tempo real e sistemas digitais em rede mundial. É claro que telefonemase mensagens de correio eletrônico jamais serão os mesmos quandoo vídeo de 30 fps ocupar linhas telefônicas, ou quando a Internetfor acessada via cabo coaxial ou cabos de fibra "tica. Novos esquemasde compressão e de grande largura de banda transformarãodiálogos ordinários em experiências multimídiae eventos de telepresença tornar-se-ão comuns. A tecnologiacontinuará a migrar em direção ao corpo, reconfigurando,expandindo e transportando-o para lugares remotos em tempo real (Stelarc,1991). No final do século vinte novas formas de arte usam tecnologiaspara sugerir novos conceitos de potencial humano. Através de eventos,sistemas e instalações efêmeras elas operam nos domíniosda mídiascape e da netvida e funcionam como interfaces entre o corpohumano e o computador e outros aparelhos eletrônicos. A presençadominante do objeto nas artes visuais (Fried, 1967; Colpitt, 1990) dálugar à experiência imaterial da telepresença (Kac1992b; 1993).

Muitos artistas que hoje trabalham com as ferramentas de seu tempo fundemtecnologias do vísivel e do invisível, configurando ambientessintéticos nos quais as fronteiras físicas são parcialmenteremovidas em favor da navegação virtual. Uma nova estéticaestá surgindo como resultado da sinergia de novos elementos não-formais,tais como a co-existência em espaços virtuais e reais, sincronicidadede aç'es, controle remoto em tempo real, operaçãode telerobôs e colaboração através de rede.A instalação de telepresença "Ornitorrinco noÉden" integrou todos esses elementos simultaneamente. Agoraeu explicarei algumas das características básicas do telerobôe prosseguirei com a apresentação da instalaçãode telepresença em si.

Ornitorrinco no Éden

A instalação de telepresença "Ornitorrincono Éden" realizada em rede foi vivenciada na Internet em 23de Outubro de 1994, por aproximadamente cinco horas. Esta peça estabeleceuum ponte entre o não-lugar da Internet e os espaços físicosem Seattle, WA, Chicago, IL, and Lexington, KY. A peça consistiude três nós de participação ativa e múltiplosnós de observação mundial. Observadores anônimosde várias cidades americanas e vários países (incluindoFinlândia, Canadá, Alemanha e Irlanda) chegaram on-line epuderam ver a instalação remota em Chicago do ponto de vistado Ornitorrinco (que era controlado por participantes anônimos emLexington e Seattle).

O telerobô Ornitorrinco, móvel e sem fio em Chicago, eracontrolado em tempo real por participantes em Lexington e Seattle. Os participantesdistantes partilharam entre si o corpo do Ornitorrinco ao mesmo tempo.Via Internet, eles viram a instalação remota atravésdo olho do Ornitorrinco. Os participantes controlavam o telerobôsimultaneamente através de um link telefonônico (teleconferênciade três pontos) em tempo real.

O espaço da instalação foi dividido em trêssetores, que estavam todos interconectados. O tema visual predominantefoi a obsolescência das mídias, anteriormente percebidas comoinovadoras, e a presença dessas mídias na nossa paisagemtecnológica. Discos LP obsoletos, fitas magnéticas, placasde circuitos e outros elementos foram usados primeiramente mais por suaforma, textura e escala externas, do que por sua função.Luzes de teatro também foram usadas para intensificar a experiênciavisual e para controlar a projeção de sombras em áreasespecíficas da instalação. Pequenos objetos foramcolocados em pontos estratégicos no espaço, incluindo globosplásticos que eram empurrados pelo telerobô para láe para cá, um objeto circular que ficava pendurado do teto e semovia de maneiras imprevisíveis, um pequeno robô estacionáriocom olhos brilhantes que, olhando-se com atenção, revelava-seum ventilador girat"rio, e um espelho que possibilitava que os participantes"vissem a si mesmos" como o telerobô Ornitorrinco. Objetoscomo esses propiciavam aos observadores encontros surpreendentes ao longodo caminho, à medida que exploravam o espaço e ajudavam acriar a atmosfera sugerida por esse teleparaíso de obsolescência.

Observações sobre o Projeto Ornitorrinco

Os eventos do Ornitorrinco são abertos à participaçãodo público em galerias, museus e outros espaços. Os eventosdo Ornitorrinco apresentam aos participantes contextos experimentais únicos,a partir da familiaridade geral com um telefone de tom (e não depulso), já que é através dos sons produzidos pelasteclas do telefone que o participante controla os movimentos do telerobôno espaço remoto. A seguir apresento comentários de indivíduosque escreveram ou falaram sobre suas experiências com o Projeto Ornitorrinco.

Jno Cook, um artista com base em Chicago comentou nossa primeira instalaçãopública de telepresença, "Ornitorrinco em Copacabana"(Kac, 1992b), apresentada diariamente no Siggraph Art Show, em 1992, emChicago (Cook, 1992). Jno Cook levou seu filho de 16 anos para um dos nósda instalação e observou sua reação. Ele escreveu:"Eu observo meu filho enquanto ele ignora as montagens eletrônicasde alto brilho, as formas fractais, e as imagens tridimensionais e ficacompletamente absorvido por um primitivo robô caseiro que funcionapor controle remoto e que corre em disparada em um quarto fechado àtrês milhas de distância do evento Siggraph". Cook explicouentão o processo e ressaltou que a alteração da tecnologiade consumo é uma importante estratégia artística.Ele perguntou: "Por que ele é atraído para esta tecnologiada idade da pedra no meio dessas maravilhas da eletrônica de ponta?Na verdade, eu tenho uma reação similar: talvez estejamosatraídos por aquele trabalho que questiona os recursos, codificaprocessos e relembra a tradição. Como artista - ou, nessecaso, como ser humano - eu na verdade não gosto muito de soluç'esprontas. Eu quero ver os dados para que eu possa chegar às minhaspróprias conclusões e fazer meu próprio raciocínio."

As observações de Jno Cook destacam um dos aspectos maissignificativos dos eventos do Ornitorrinco, que é possibilitar aoparticipante romper com o papel passivo de observador, típico denossa experiência de museu, e tornar-se ativo na determinaçãodo resultado de seu engajamento com o trabalho de arte. O convite paraa ação do participante leva à tomada de decisãoe dá poder ao participante de ser responsável por aquiloque ele vê. Isso vai contra a maioria das tradiçõesna arte, que definem o artista como um produtor de objetos e o espectadorcomo um observador à parte. A idéia da arte visual como umaarte do evento desafia a noção de materialidade e permanênciado trabalho de arte, como J. Cook observou, e cria uma situaçãoque convida ao pensamento reflexivo e ao questionamento de estruturas perceptivas.Ou, como comentou no mesmo contexto Abigail Foerstner, no Chicago Tribune,"os participantes não apenas olham a arte nesta exposição,mas ajudam a fazê-la (Foerstner, 1992)."

Richard Kriesche, professor de estética na Hochschule fürGestaltung, em Offenbach, Alemanha, vivenciou o Ornitorrinco no Siggraph'92 Art Show e, como comissário, solicitou uma nova instalaçãoOrnitorrinco para o festival internacional de arte e telecomunicações"Entgrenzte Grenzen" (Fronteiras Dissolutas). O festival foiapresentado dentro e fora do museu Kunstlerhaus em Graz, Áustria,em 1993. A peça que nós criamos para o festival foi a instalaçãointercontinental de telepresença "Ornitorrinco na Lua"(Kac, 1993), vivenciada em 28 de maio de 1993, entre a School of The ArtInstitute of Chicago (onde estava o telerobô) e o Kunstlerhaus (ondeestavam os participantes). Na introdução do livro que acompanhoua exibição, Kriesche observou que o ambiente criado pelastecnologias de informação levantam quest'es interessantespara as artes, e perguntou: "O que nós podemos fazer para assegurarque a arte não seja meramente uma categoria obsoleta e anacrônica,mas derive seu significado da interpretação desse espaçotelemático ao mesmo tempo vital e ameaçador da vida?"(Kriesche, 1993a). Nos seus comentários para o público austríacona abertura do "Ornitorrinco na Lua" (Kriesche, 1993b), ele explicouque na nossa peça o espaço remoto em Chicago era "agoravisível pelo telefone" e observou a importância de trabalharno "espaço da telepresença".

Discutindo a criação de novos trabalhos de arte baseadosna telemática e na interatividade, Gilbertto Prado, professor dearte na Universidade de Campinas, São Paulo, escreveu sobre o projetode arte da telepresença Ornitorrinco no contexto da arte de telecomunicaç'es(Prado, 1995). Em referência à nossa instalaçãona Siggraph bem como nossa peça intercontinental Ornitorrinco naLua, ele disse: "O participante telepresente pode coordenar o movimentodo robô num espaço remoto. Os participantes desenvolveram"estratégias de visão" e improvisaram leiturase soluções de movimentos. Com procedimentos interativos,o artista tornou-se o catalisador de uma atividade criativa de ramificaçõesplurais".

A introdução de uma estrutura de rede pela primeira vezem um evento Ornitorrinco possibilitou a participação ativasimultânea de indivíduos de Seattle, WA e Lexington, KY. Ocrítico de arte Tom McTaggart, do Seattle Weekly, notou que todasas instalaç'es no "Beyond Fast Forward", um festival dearte eletrônica que aconteceu em Seattle, de 20 a 23 de outubro de1994, e do qual participou "Ornitorrinco no Éden", "eramverdadeiramente interativas" e que "pessoas comuns as acharaminteressantes e acessíveis" (McTaggart, 1994). Comentando especificamentesobre o projeto Ornitorrinco ele reconheceu que o projeto "extrapolouas correntes artísticas convencionais" e que o objetivo "eracriar arte que não existiria em uma galeria física, mas emlinks de vídeo entre pessoas e lugares. Nesta peça [Ornitorrincono Éden], os observadores podiam esquecer de si mesmos temporariamente,permitindo que o robô se tornasse seus olhos." Depois de explicara estrutura da peça, McTaggart a comparou "aos robôsque pousaram em Marte na década de 70, cujas câmeras de televisãopermitiram que os cientistas vivenciassem um outro planeta."

O historiador da arte Keith Holz afirmou que o "Ornitorrinco noÉden" incita "reflexão sobre o status do indivíduocomo membro ativo de uma comunidade imaginária - tecnologicamenteconstituída. Através da criação de híbridossimples e complexos de tecnologias de comunicação existentes",continuou ele, este trabalho "desmistifica suas operaç'es earranjos convencionais e encoraja os participantes a considerarem comoas lacunas entre mídias concebidas discretamente, quando moduladasjuntas, podem oferecer alternativas emancipat"rias para tais usoscodificados, tipificados por formas de mídia unidirecionais comoa televisão". (Holz, 1994).

Zoya Tereshkova, uma escritora ucraniana que mora em Lexington, observouna sua crítica sobre a instalação: "Dois estranhosque não podiam se comunicar verbalmente partilhavam de um mesmocorpo e viam o mundo através dos olhos do Ornitorrinco. Eles exploraramjuntos o mundo do Ornitorrinco à escala do robô, em Chicago,e o que eles vivenciaram durante sua viagem virtual dependia completamentede uma boa cooperação (Tereshkova, 1994)". Em sua crítica,Tereshkova destacou um aspecto chave deste trabalho de instalaçãode telepresença em rede: a colaboração e a cooperaçãoentre indivíduos que nunca se encontraram e que de repente se vêmdividindo pela primeira vez um corpo remoto com outro indivíduoanônimo.

Este aspecto importante do trabalho não escapou da críticade arte Joyce Probus, que vivenciou em primeira-mão o "Ornitorrincono Éden" no nó de Lexington. Ela escreveu em sua crítica:"Os visitantes da galeria encontram um monitor preto e branco quemostra uma imagem granulada, de baixa resolução. Ao ladodo monitor, um telefone sem receptor convida ao toque do visitante. Umbotão é pressionado, e em resposta, o telerobô move-sedentro de seu ambiente em Chicago. O participante em Lexington observao movimento e pressionando o botão do telefone determina a direçãodo robô dentro de um espaço a 500 milhas (800 km) de distância.O participante, pelo monitor, vê através do olho do robô,e navega vicariamente dentro do ambiente que se desdobra à sua frente.O visitante domina o modelo simples das teclas de telefone, mas repentinamenteos movimentos do Ornitorrinco não refletem o seu sinal porque orobô está respondendo ao sinal de um participante em uma estaçãosimilar no Seattle Center. A comunicação é modificada.São feitas acomodaç'es para a terceira parte (Probus, 1995)."

Esse comentário reflete bem meu desejo de impulsionar o uso dastelecomunicações na arte para além da transmissãoe recepção de imagens e sons, numa esfera compartilhada decomportamento livre e ação no espaço físico.

Telepresença: telecomunicações como um espaçopara ação

No novo contexto interativo e participativo gerado por essa instalaçãode telepresença na Internet, encontros comunicacionais nãoaconteceram através da troca verbal ou oral, mas atravésde ritmos que resultaram do engajamento dos participantes em uma experiênciamediada compartilhada. Os observadores e participantes eram convidadosa experienciar juntos, no mesmo corpo, um espaço remoto inventadoa partir de uma outra perspectiva que não as suas pr"prias,suspendendo temporariamente a base de sua identidade, a localizaçãogeográfica, e a presença física. Como a peçafoi vivenciada através da Internet, qualquer pessoa no mundo comacesso à rede poderia vê-la, dissolvendo as paredes das galeriase tornando o trabalho acessível para públicos maiores.

Fundindo a telerob"tica, a participação remota, osespaços geograficamente dispersos, o tradicional sistema telefônico,bem como a telefonia celular, o controle de movimentos em tempo real ea vídeo-conferência através da Internet, esta instalaçãode telepresença em rede produziu uma nova forma de experiênciainterativa que aponta para futuras formas de arte. No pr"ximo século,mais e mais pessoas irão viver, interagir e trabalhar entre mundosdentro e fora do computador e novos tipos de interface serão criadas,inclusive interfaces biol"gicas. Como resultado da expansãodas comunicaç'es e da tecnologia de telepresença, novas formasde interface entre humanos, plantas, animais, insetos e robôs tambémserão desenvolvidas (Weiss, 1989; Weis, Müller, and Fromherz,1996). Ornitorrinco está dando um passo nesta direção.

Com novos computadores vestíveis, antenas parab"licas portáteis,telefones de pulso, vídeo holográfico e toda uma nova gamade invenç'es tecnol"gicas, a mídia de telecomunicaç'escontinuará a proliferar, mas de modo algum isso pode ser visto comouma certeza de um salto qualitativo em comunicação interpessoal.O "Ornitorrinco no Éden" cria um contexto no qual participantesanônimos percebem que é somente através de suas experiênciaspartilhadas e de sua colaboração não hierárquicaque, pouco a pouco, ou quase tela a tela, uma nova realidade é construída.Nesta nova realidade, distâncias espaço-temporais tornam-seirrelevantes, espaços virtuais e reais tornam-se equivalentes ebarreiras lingüísticas podem ser temporariamente removidasem favor de uma nova experiência comunicativa.

Desenvolvimentos Futuros

Ornitorrinco é um projeto em constante mutação.Atualmente existem várias mudanças tecnol"gicas quen"s estamos explorando. Futuros eventos Ornitorrinco continuarãoa gerar formas híbridas que combinam tecnologias mais velhas compesquisas recentes.

As implicaç'es políticas da nova cultura digital, quetem na Internet um dos seus principais vetores, devem ser cuidadosamenteexaminadas. Meu trabalho mostra parte do futuro da arte explorando ao mesmotempo as tecnologias de ponta (incluindo telerobótica e vídeo-conferênciaatravés da Internet) bem como as tecnologias mais simples com asquais estamos todos muito familiarizados (incluindo o fax e o telefone).Eu freqüentemente hibridizo as mídias, criando novas paisagensmidiáticas. Eu creio que os elementos imateriais são os maisadequados para o meu trabalho: luz, lugares remotos e diferentes zonastemporais, conversações orais, vídeo-conferência,navegação robótica, multiplicidade dos espaçosvirtuais, sincronicidade, interações humano/máquina,interação animal e planta, interação humanae animal mediada por telerobôs, e transmissão, recepçãoe troca de informação digital.

Na busca de novas possibilidades estéticas, eu abraçoestratégias que promovem a hibridização de tecnologiase a exploração de aspectos potenciais de novas paisagensmidiáticas. Nesse sentido, eu uso as mídias de telecomunicaçõespara implodir sua lógica unidirecional e criar, no domíniodo real, uma nova forma de arte que dá prioridade a experiênciasdemocráticas e dialógicas.

Referências

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Este texto foi inicialmente escrito em 1994 (em inglês) e apareceaqui, em sua forma original, com mínimas correções.Versões subsequentes foram publicadas na revista Leonardo,Vol. 29, No. 5, 1996 (em inglês), no livro The Visuality of TheUnseen, Dmitry Golinko-Volfson, editor (St. Petersburg, Russia: Borey,1996), e no livro que documenta a conferência Interface III,Klaus Peter Dencker, editor, Kulturbehorde, Hamburg, 1997 (em alemão).Esta versão em português, em tradução de FlaviaSaretta, foi publicada no livro A Arte no Século XXI, editadopor Diana Domingues (São Paulo: Unesp, 1997).

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